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Pós-verdade

Fragmentos de fatos à revelia

por Raphael Ferreira

11/2021

Curadoria: Pablo Gobira

Estatuto curatorial

A arte além dos protocolos

Raphael Ferreira é um artista sem protocolos. Como um artista autoproclamado revela um cenário complexo e paradoxal com o qual lida explorando a imagem e a palavra. O seu trânsito entre a palavra e a imagem não encontra nenhuma fronteira. Desfaz protocolos comunicativos, visuais, poéticos em uma composição tão repleta de significação que permite transpor todo e qualquer significado que coloca em cena. 

Ao enfocar a ideia de “pós-verdade” essa produção estética arrasta uma rede semântica com a qual o contexto contemporâneo está se acostumando: mentira, verdade, ficção, narrativa, notícias falsas… Todas essas são ideias com as quais a arte já lidava de maneira programática desde o princípio do século XX. 

É curioso que todo esse arsenal que era restrito ao mundo da arte se amplia deste para outros setores da sociedade através da ação comunicativa. A exposição “Pós-verdade” propõe notícias falsas em diálogo com a tradição crítica do século XX (e da arte como crítica). Uma crítica que é permitida e praticada com o financiamento de lei em execução por secretaria de governo. Nesse movimento, revela a “pós-verdade” modelada para ser vista na exposição, enquanto mostra o esgotamento da crítica que se apresenta de maneira cínica. 

O ambiente criado pelas obras constitui um valor estético próprio a esta exposição da “pós-verdade”. A partir de tudo isso, podemos dizer que o visitante encontrará, por meio da assistência tecnológica, imagens e textos formados com auxílio de softwares, seus algoritmos de randomização e criação de “headlines” baseadas na realidade social. 

O encontro do visitante com a exposição apresentará, por fim, multi-narrativas após a crise dos meta-relatos. Temos em exposição mini-crônicas imaginadas através da relação humano-máquina de um tempo no qual os usos da utopia se multiplicaram.


Pablo Gobira

Curador

 

Raphael Ferreira

Artista autoproclamado com formação acadêmica em Comunicação Social e especialização em Produção e Crítica Cultural, Raphael Ferreira utiliza do cruzamento de linguagens da arte com outros campos do saber, a fim de abordar possibilidades criativas de forma a questionar verdades absolutas.

Nascido em Montes Claros/MG, foi para Belo Horizonte ainda com um ano de idade, cidade onde vive e trabalha. Teve seus primeiros contatos com universo artístico em família, nos ateliês de pintura de seu tio Sérgio Ferreira e de seu pai Tako Ferreira, ambos artistas autodidatas. Começou a desenvolver seus primeiros trabalhos autorais em composições musicais e posteriormente nas artes visuais. 

Durante o período de graduação na faculdade de Comunicação Social iniciou sua pesquisa independente em fotografia. Fez experimentos com sobreposições de imagens em processos de revelação analógico e mais tarde transpôs a técnica para o meio digital, que se tornou cada vez mais presente em suas produções. 

A fotografia é um elemento recorrente nas obras do artista que busca capturar o cotidiano ora como um fotojornalista, ora como um colecionador de cores e formas. Assim também são as palavras e sons, elementos da linguagem, seja no formato canção ou nas demais possibilidades de expressão são utilizados à revelia pelo artista. A partir de seu acervo capturado, apropriado ou sintetizado Raphael Ferreira realiza suas intervenções com um enfoque crítico da realidade social na qual vivemos. 

 

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Raphael Ferreira – A verdade tem várias verdades – Vídeo 2’03” – 2019

Arte-educação

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